Catarina dá trégua ao PS e apela ao voto dos "enganados" por PSD e CDS
Foi o primeiro comício em que Catarina Martins não visou o PS. Esta quarta-feira, na Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, a porta-voz do BE enterrou o machado de guerra e a estratégia de estancagem do voto útil e dirigiu-se aos eleitores que confiaram no PSD e no CDS há uatro anos e que podem agora sentir-se defraudados. E aos indecisos e potenciais abstencionistas.
Numa sala com história de luta e completamente lotada, Catarina falou sem palco. À americana, sem púlpito e com microfone na lapela, o que encorajou algumas interrupções por parte das centenas de apoiantes ali presentes, a porta-voz bloquista não disse uma palavra sobre António Costa ou sobre o PS e virou agulhas para outros alvos: o eleitorado desiludido com a agora PaF e os que estejam a equacionar nem ir votar.
Num apelo prolongado aos professores, aos funcionários públicos, aos pensionistas, aos precários, à "geração quinhenteurista" e aos que se sentiram "enganados pela direita", a dirigente máxima do BE recordou que "domingo é dia de votar novamente". E sublinhou que "quem mentiu em 2011 está a mentir em 2015". Por isso, disse que desta vez a cruinha teria de ser feita à frente do logótipo do seu partido. Contra a "desistência", os que dizem que "não há alternativa" à austeridade e projetam um futuro de "subserviência" aos ditames europeus.
A rematar um discurso em crescendo, Catarina Martins afirmou que "Joana Mortágua vai para a Assembleia da República faer a diferença todos os dias" e assumiu o objetivo do partido em eleger um segundo deputado pelo círculo de Setúbal, no caso Sandra Cunha.
As despesas do ataque ao PS foram, assim, assumidas pelo fundador do BE Fernando Rosas e pela cabeça de lista no distrito sadino. Entre as duras críticas ao "novo paradigma" político-económico da coligação Portugal à Frente (PaF), o mandatário da candidatura naqueles círculo disse ter ouvido com "perplexidade" o presidente "rosa", Carlos César, "atacar de forma desabrida, aos gritos" o BE e afirmar que votar nos bloquistas seria "fazer o jogo de direita".
"Não me admira a acusação, mas a falta de pudor que ela veste", começou o antigo deputado, apelando de seguinda a que o povo português não dê maioria absoluta "seja a quem for". Para combater o voto útil em António Costa - que tem deixado Catarina Martins a falar sozinha sobre entendimentos futuros -, enfatizou: "Pedir o voto para uma maioria absoluta, pedi-lo nestes termos, é pedir que a esquerda ceda os votos ao PS para o PS os usar aplicando as medidas contra as quais a esquerda protesta e não aceita."
Em todo o caso, o discurso da noite foi o de Joana Mortágua. Sobre os socialistas, a cabeça de lista em Setúbal contestou a tese de que o voto no BE se traduza num "voto na direita" e disse que só "o desespero" pode conduzir a esse tipo de declarações. Isto porque, notou, a "principal oposição" a Pedro Passos Coelho e Paulo Portas tem sido feita pelos bloquistas.
Maria Luís Albuquerque é que deve ter ficado com as orelhas a arder. A ministra das Finanças, cabeça de lista da PaF naquele distrito, mereceu uma "palavra de reconhecimento" por ser "candidata ao prémio dos piores filmes", uma espécie, explicou, de "Festival de Cannes ao contrário". E ilustrou com referências da 7.ª arte (e não só): "Estreou-se em cartaz com a trilogia 'A senhora dos swaps'", depois, com a venda falhada do Novo Banco, notabiliou-se com a "Missão Impossível" e por último veio a tragicomédia "Querido, encolhi o défice".
"Afinal, a casa está mal arrumada", prosseguiu Joana Mortágua, para quem "é oficial" que "a PaF pifou".